A denominação bioma (bio, vida; oma, proliferação) está associada à relação estabelecida entre os conceitos de ecossistemas (de uso corrente pelos biólogos) e paisagens (expressão que articula uma série de elementos temáticos e de maior abrangência conceitual para os geógrafos). Utiliza-se o conceito de bioma tanto no que se refere à classificação de grandes paisagens, quanto para designar unidades geográficas contínuas, ainda que sejam compostas por uma miríade de ecossistemas. O Pampa, como bioma (IBGE 2004), é a reunião de formações ecológicas que se intercruzam em uma formação ecopaisagística única, com intenso tráfego de matéria, energia e vida entre os campos, matas ciliares (de galeria), capões de mato e matas de encostas, suas principais formações.
I. Localização
Os Campos Sulinos, ou Pampas, abrangem regiões pastoris de planícies nos três países da América do Sul ocupando uma área de aproximadamente 750 mil km² sendo compartilhada por Brasil, Uruguai e Argentina. O Pampa está restrito ao estado do Rio Grande do Sul, onde ocupa uma área de 176.496 km² (IBGE, 2004). Isto corresponde a 63% do território estadual e a 2,07% do território brasileiro.
II. Clima
O clima do Pampa é Subtropical temperado, com temperatura média de 18°C e chuvas distribuídas ao longo do ano, caracterizado por clima chuvoso, sem período seco sistemático, mas marcado pela frequência de frentes polares e temperaturas negativas no período de inverno, que produzem uma estacionalidade fisiológica vegetal típica de clima frio seco, evidenciando intenso processo de evapotranspiração, principalmente no Planalto da Campanha.
III. Relevo
O relevo nos campos sulinos é suavemente ondulado, entre 500 m e 800 m de altitude. Predominam planícies, mas podem ser encontradas algumas colinas, na região conhecidas como “coxilhas”. Além das coxilhas existem também alguns planaltos. Cavernas e grutas são comuns.
IV. Solos
Na região dos Pampas o solo é fértil em geral é fértil altamente rico em nutrientes. Por isso, estes campos são normalmente procurados para desenvolvimento de atividades agrícolas. Ainda mais férteis são as áreas com solo do tipo “terra roxa“.
Em áreas de planalto os solos são também avermelhados, mas não possuem a fertilidade da terra roxa. Na planície litorânea o solo é bastante arenoso. Algumas áreas dos pampas estão sofrendo processo de desertificação, devido à retirada da vegetação nativa e sua substituição por monoculturas ou pastos.
V. Hidrografia
Destacam-se como rios importantes deste Bioma, o Santa Maria, o Uruguai, o Jacuí, o Ibicuí e o Vacacaí. Estes e outros da região se dividem em duas bacias hidrográficas: a Costeira do Sul e a do rio da Prata. Tratam-se de rios que apresentam boas condições para navegação, constituindo verdadeiras hidrovias na região. Próximo ao litoral existem muitos lagos e lagoas.
A lagoa dos Patos situada no estado do Rio Grande do Sul é um exemplo, com 265 km de comprimento, 60 km de largura e 7 m de profundidade na sua quota máxima. Estendendo-se paralelamente ao Oceano Atlântico, é a maior laguna do Brasil e a segunda da América Latina.
Principais rios do bioma:
- O rio Santa Maria encontra-se na fronteira sudoeste do Rio Grande do Sul e cobre seis municípios. Tem uma área de 15.739 km², correspondente à aproximadamente 5,6% da área do Rio Grande do Sul. O rio Santa Maria nasce ao nordeste do município de Dom Pedrito e tem sua foz no rio Ibicuí, desembocando no rio Uruguai.
- O rio Uruguai nasce na Serra Geral e se forma através da junção dos rios Canoas e Pelotas, na divisa entre Rio Grande do Sul e Santa Catarina. Tem sua foz na bacia do Prata. Sua extensão total é de 1770 km. O rio Uruguai tem um grande potencial hidrelétrico.
- O rio Jacuí tem sua nascente a menos de 500 m da do rio Passo Fundo e a menos de 900 m das do rio do Peixe e Guaporé. E Deságua no delta do Jacuí, que é um conjunto de canais, ilhas e pântanos que forma o lago Guaíba. As águas então seguem para a Lagoa dos Patos e, daí, para o oceano Atlântico. O Jacuí tem grande importância por onde passa, sendo usado em irrigação e, por meio da pesca e extração de areia, serve de sustento para famílias.
- O rio Ibicuí é o maior afluente do rio Uruguai, tendo 290 km de extensão. É formado pela junção do Rio Ibicuí-Mirim e pelo rio Santa Maria. Vai para a Bacia Platina e, daí, ao Oceano Atlântico.O Rio se caracteriza pelas praias fluviais de areias brancas e finas. A captação de água para agricultura e pecuária, juntamente com a extração de areia, vem modificando o leito do rio. Outro problema é a poluição de suas águas por agrotóxicos.
- O rio Vacacaí tem aproximadamente 330 km de extensão, nasce na Serra Babaraquá e tem sua foz no Rio Jacuí.
VI. Fauna
Os campos constituem o habitat principal de uma parcela expressiva da fauna do sul do Brasil e, em especial, do Rio Grande do Sul, onde esse ecossistema ocupa uma superfície maior.
A fauna é expressiva, com quase 500 espécies de aves, dentre elas a ema (Rhea americana), o perdigão (Rynchotus rufescens), a perdiz (Nothura maculosa), o quero-quero (Vanellus chilensis), o caminheiro-de-espora (Anthus correndera), o joão-de-barro (Furnarius rufus), o sabiá-do-campo (Mimus saturninus) e o pica-pau do campo (Colaptes campestres). Também ocorrem mais de 100 espécies de mamíferos terrestres, incluindo o veado-campeiro (Ozotoceros bezoarticus), o graxaim (Pseudalopex gymnocercus), o furão (Galictis cuja), o tatu-mulita (Dasypus hybridus), o preá (Cavia aperea) e várias espécies de tuco-tucos (Ctenomys sp). O Pampa abriga um ecossistema muito rico, com muitas espécies endêmicas tais como: Tuco-tuco (Ctenomys flamarioni), o beija-flor-de-barbaazul (Heliomaster furcifer); o sapinho-de-barriga-vermelha (Melanophryniscus atroluteus) e algumas ameaçadas de extinção tais como: o veado campeiro (Ozotocerus bezoarticus), o cervo-dopantanal (Blastocerus dichotomus), o caboclinho-de-barriga-verde (Sporophila hypoxantha) e o picapauzinho-chorão (Picoides mixtus) (Brasil, 2003).
Seres vivos ameaçados de extinção:
As principais espécies ameaçadas de extinção são exemplificadas por inúmeros animais, como: a onça-pintada, a jaguatirica, o mono-carvoeiro, o macaco-prego, o guariba, o mico-leão-dourado, vários sagüis, a preguiça-de-coleira, o caxinguelê, o tamanduá.
Entre as aves destacam-se o jacu, o macuco, a jacutinga, o tiê-sangue, a araponga, o sanhaço, numerosos beija-flores, tucanos, saíras e gaturamos.
Entre os mamíferos, 39% também são endêmicos, o mesmo ocorrendo com a maioria das borboletas, dos répteis, dos anfíbios e das aves nativas. Nela sobrevivem mais de 20 espécies de primatas, a maior parte delas endêmicas.
Um dos animais ameaçados de extinção está o Gato dos Pampas (Felis colocolo) que mede 85 cm, sendo 25 cm de calda. O habitat dele se estende desde o Sul da Patagônia, por quase toda a Argentina, Chile, peru e Equador. No Brasil atinge o Estado de Mato grosso do Sul, onde é encontrado em todo “chapadão”.
Os Campos Sulinos sustentam uma fauna própria e com grande diversidade de espécies e modos de vida. Esses ecossistemas também são singularmente importantes como hábitats de espécies endêmicas e ameaçadas de extinção em distintas escalas geográficas. Atributos como esses conferem grande valor biológico às formações campestres do sul do Brasil e as tornam merecedoras de esforços de conservação. A erosão desse patrimônio biológico, por outro lado, representa uma perda significativa em termos de recursos genéticos, ambientais, econômicos, recreacionais e culturais. Mais do que conservar somente espécies, porém, é preciso reconhecer a conexão existente entre a diversidade biológica e o funcionamento dos ecossistemas campestres, preservando também os processos evolutivos e ecológicos responsáveis pela organização e pela diversidade estrutural dos campos. Diversas espécies da fauna campestre do sul brasileiro guardam complexas e ainda quase completamente desconhecidas relações de dependência com fatores bióticos e abióticos do meio onde vivem. Compreender melhor essas relações é essencial para a conservação da fauna associada aos Campos Sulinos.
VII. Vegetação
Os recursos naturais são importantes na manutenção dos seres vivos, através dos alimentos, matérias primas e minerais, além dos serviços ecológicos prestados à manutenção da vida no planeta. Dentre os recursos naturais renováveis estão incluídos a fauna e a flora, os quais constituem os fatores bióticos, e estão associados aos fatores abióticos como o solo e a água entre outros. O solo, a água, o ar, a fauna e a flora são diretamente afetados pela atividade humana, ou seja, a exploração inadequada destes recursos pode torná-los não renováveis. O solo degradado, a água quando contaminada por resíduos químicos e a emissão de CO2 no ar em excesso são de difícil recuperação. A flora e a fauna se não forem bem manejadas estão sujeitas à extinção. O conhecimento pelo homem dos recursos naturais e do seu funcionamento é que vai definir a utilização racional dos mesmos. O desafio está em usar estes recursos de uma maneira sustentável e conservacionista.
A vegetação é predominantemente campestre. A flora do bioma é caracterizada por uma vegetação composta por gramíneas, plantas rasteiras, arbustos e herbáceas, enquanto que as formações florestais restringem-se principalmente às margens dos rios. A biodiversidade dos Campos tem sido foco de estudos recentes. Somente no Rio Grande do Sul há em torno de 3000 espécies de plantas – um valor elevado se considerados os ecossistemas campestres do mundo e a área proporcionalmente ocupada no Estado. Destas mais de 213 são consideradas ameaçadas.
Apresentando notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (capim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, barbas-de-bode, cabelos de porco, dentre outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo, Nhandavaí, Louro-Pardo, Cedro, Cabreúva, Canjerana, Guajuvira, Guatambu, Grápia, Canafístula, Pau-De-Leite, Unha-De-Gato, Bracatinga, Angico-Vermelho, Caroba, Timbaúva, Araucárias, Palmeira Anã, entre outras.
Segundo o Ministério do Meio Ambiente, a vegetação do Bioma Pampa pode ser dividida em:
- Estepe
Os Pampas são exemplos de estepes neotropicais, áreas de relevo plano ou suave ondulado, recobertas por vegetação herbácea contínua . O domínio da Estepe estende-se por dois amplos e distintos ambientes:
a) Planalto das Araucárias: clima pluvial subtropical sem período seco e coexiste com a Floresta Ombrófila Mista (com araucária), cujas espécies vão constituir-lhe capões e florestas de galeria. Por influência, principalmente, da altitude, suporta período frio (temperatura média mensal menor ou igual a 15° C) anual mais pronunciado, de até oito meses; enquanto o período quente (temperatura média mensal menor ou igual a 20° C) é reduzido ou ausente;
b) Superfícies meridionais gaúchas do Planalto rio-grandense-do-sul, do Planalto da Campanha e da Depressão Central:Nas superfícies meridionais gaúchas referidas acima, a Estepe conserva certa identidade pluviométrica com o Planalto das Araucárias, pois não apresenta período seco. No entanto, é submetida a maior amplitude térmica e batida mais frequentemente por frentes polares mais frias e dessecantes, o que intensifica a evapotranspiração e consequente ação do inverno, provocando secas ocasionais mais severas, que podem limitar as atividades vegetativas tanto das espécies nativas quanto das cultivadas. Em consequência, sua flora escassa arbórea é típica da Floresta Estacional Decidual. A ausência de período seco foi determinada na época do mapeamento com base no método das curvas ombrotérmicas de Bagnouls e Gaussen (1957) e Walter (1973), pelo qual são correlacionadas as médias mensais de pluviosidade e temperatura relativas aos últimos dez anos de observação das estações meteorológicas. As aqui chamadas Estepes brasileiras estão submetidas a intenso processo de antropização, principalmente pela criação extensiva de gado aliada ao uso do fogo, fatores que condicionam sua estrutura e composição florística atuais. Em décadas mais recentes, intensificou-se a pressão antrópica sobre a Estepe em consequência da ampliação da área produtora de grãos, especialmente de soja, que contribuiu para dizimar também a grande maioria das formações florestais da Região Sul do País. São reconhecidas três formações da Estepe brasileira, distribuídas no Planalto
- Savana Estépica
Fisionomia tropical na qual árvores, arbustos e ervas estão presentes de forma relevante, sem uma clara dominância fisionômica das árvores.
- Floresta Estacional Semidecídua
O conceito ecológico deste tipo florestal é estabelecido em função da ocorrência de clima estacional que determina a semideciduidade da folhagem da cobertura florestal. Na zona subtropical que é o caso dos pampas , correlaciona-se a clima sem período seco, porém com inverno bastante frio (temperaturas médias mensais inferiores a 15° C), que determina repouso fisiológico e queda parcial da folhagem. Já nas áreas subtropicais, é composta por macrofanerófitos que recobrem solos basálticos eutróficos .
- Floresta Estacional Decidual
Ocorre na forma de disjunções distribuídas por diferentes quadrantes do País, com estrato superior formado de macro e mesofanerófítos predominantemente caducifólios, com mais de 50% dos indivíduos despidos de folhagem no período desfavorável. Compreende no sul na área subtropical, no vale do Rio Uruguai, entre a Floresta Ombrófila Mista (Floresta-de-Araucária) do Planalto Meridional e a Estepe (Campos Gaúchos).,Apresentando uma estação na zona subtropical, sem período seco, porém com inverno frio (temperaturas médias mensais menores ou iguais a 15o C, que determina repouso fisiológico e queda parcial da folhagem). Enquadram-se neste último caso as florestas da borda do Planalto Meridional, do Estado do Rio Grande do Sul, uma disjunção que apresenta o estrato florestal superior dominantemente decíduo.
- Formações Pioneiras
Ao longo do litoral, bem como nas planícies fluviais e mesmo ao redor das depressões aluviais (pântanos, lagunas e lagoas), há frequentemente terrenos instáveis cobertos por uma vegetação, em constante sucessão, de terófitos, criptófitos (geófitos e/ou hidrófitos), hemicriptófitos, caméfitos e nanofanerófitos. Trata-se de uma vegetação de primeira ocupação de caráter edáfico, que ocupa terrenos rejuvenescidos pelas seguidas deposições de areias marinhas nas praias e restingas, as aluviões fluviomarinhas nas embocaduras dos rios e os solos ribeirinhos aluviais e lacustres.
- Floresta Estacional
Formação associada a sazonalidade com estações secas e chuvosas bem definidas. A vegetação campestre apresenta uma alta diversidade de espécies e de ecossistemas e está em plena harmonia com o ambiente, ou seja, é adaptada aos diferentes locais. As plantas que ali habitam apresentam na sua fisiologia e morfologia características peculiares capazes de suportar os estresses do ambiente. É A substituição dos campos por lavouras para produção de grãos ou para obtenção de celulose está conduzindo à descaracterização da paisagem, desta grande unidade de paisagem natural, juntamente com a perda da cultura e da figura do gaúcho. A aplicação de herbicidas sobre a vegetação campestre para introdução de espécies forrageiras cultivadas, o manejo inadequado dos mesmos com alta carga animal, levando ao sobre pastejo, o qual seleciona espécies adaptadas ao mesmo e o uso sistematizado do fogo é também responsável pela destruição deste ecossistema natural, além de toda implicação com a fauna e o solo.
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