quinta-feira, 24 de setembro de 2015

BIOMA PAMPA - PARTE 2 (FINAL)

VIII. Tipos fitofisionômicos  

              O Bioma Pampa, que se delimita apenas com o Bioma Mata Atlântica, é formado por quatro conjuntos principais de fitofisionomias campestres naturais:  
Planalto da Campanha: 
           Predomina o relevo suave ondulado originário do derrame basáltico com cobertura vegetal gramíneo-lenhosa estépica, podendo esta ser considerada como a área “core” do bioma no Brasil. É usado como pastagem natural e/ou manejada, mas possui, também, atividades agrícolas, principalmente o cultivo de arroz nas esparsas planícies aluviais. Apresenta disjunções de Savana Estépica típica do ambiente Chaquenho, que guarda homologia fisionômica com a Caatinga do Nordeste do Brasil (como por exemplo, na foz do rio Quaraí no extremo sudoeste do Rio Grande do Sul). 
 Depressão Central:  
           Compreende, sobretudo, terrenos da Cobertura Sedimentar Gonduânica (Bacia do Paraná) formando uma faixa semicircular sinuosa entre Porto Alegre (a leste), Santiago/Alegrete (a oeste) e Santana do Livramento/ Dom Pedrito/ Bagé (no centro sul), isolando o Planalto Sul-Rio-Grandense  na porção sudeste do Estado. Esta área é caracterizada por um campo arbustivo-herbáceo, associado à florestas de galeria degradadas que, em geral, são compostas por espécies arbóreas deciduais. Apresenta uma maior disponibilidade de umidade, motivada pela maior regularidade pluviométrica e/ou pela maior concentração de drenagem e depressões do terreno. Associadas à densa rede de drenagem formaram-se extensas planícies sedimentares aluviais, como ao longo das bacias do Jacuí, Vacacaí e Santa Maria, nas quais as formações pioneiras e florestas de galeria foram substituídas por culturas e pastagens. 
 Planalto Sul-Rio-Grandense: 
            Denominado Escudo Cristalino, bloco Pré-Cambriano  isolado entre a Planície Marino-Lacunar  (a leste) e a Depressão Central (a norte, oeste e sul) e que alcança altitudes superiores a 300/400m. Seus terrenos são mais altos, no contexto regional, e regados com maior intensidade pelas chuvas, devido à influência ma rinha. Em razão disto, a cobertura vegetal natural é mais complexa, compondo-se de Estepe Arbórea Aberta, Parque e Gramíneo-Lenhosa, com marcante presença de formações florestais estacionais semidecíduas, especialmente na face oriental próxima à Lagoa dos Patos. De modo geral, predominam Pastagens  naturais ou manejadas. 
Planície Costeira: 
               São terrenos sedimentares de origem tanto fluvial quanto marinha, ocupando a faixa oriental do Estado do Rio Grande do Sul desde a fronteira com o Uruguai até a divisa com Santa Catarina. São áreas aplainadas ou deprimidas, com solos em geral, arenosos (distróficos ou álicos) ou hidromórficos. São revestidas, principalmente, por formações pioneiras arbustivo-herbáceas, típicas de complexo lagunar onde se destacam as Lagoas dos Patos, Mirim e Mangueira. De modo mais esparso, observam-se formações florestais, especialmente aquelas das terras baixas e aluviais, típicas da Floresta Ombrófila Densa. O uso da terra prevalecente é representado por pastagem natural associada à rizicultura. 

IX. Conservação do bioma 

         As paisagens naturais do Pampa são variadas, de serras a planícies, de morros rupestres a coxilhas. O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. As paisagens naturais do Pampa se caracterizam pelo predomínio dos campos nativos, mas há também a presença de matas ciliares, matas de encosta, matas de pau-ferro, formações arbustivas, butiazais, banhados, afloramentos rochosos, etc. 
              Por ser um conjunto de ecossistemas muito antigos, o Pampa apresenta flora e fauna próprias e grande biodiversidade, ainda não completamente descrita pela ciência. Estimativas indicam valores em torno de 3000 espécies de plantas, com notável diversidade de gramíneas, são mais de 450 espécies (campim-forquilha, grama-tapete, flechilhas, brabas-de-bode, cabelos deporco, dentre outras). Nas áreas de campo natural, também se destacam as espécies de compostas e 
de leguminosas (150 espécies) como a babosa-do-campo, o amendoim-nativo e o trevo-nativo. Nas áreas de afloramentos rochosos podem ser encontradas muitas espécies de cactáceas. Entre as várias espécies vegetais típicas do Pampa vale destacar o Algarrobo (Prosopis algorobilla) e o Nhandavaí (Acacia farnesiana) arbusto cujos remanescentes podem ser encontrados apenas no Parque Estadual do Espinilho, no município de Barra do Quaraí. 
         Trata-se de um patrimônio natural, genético e cultural de importância nacional e global. Também é no Pampa que fica a maior parte do aquífero Guarani. Desde a colonização ibérica, a pecuária extensiva sobre os campos nativos tem sido a principal atividade econômica da região. Além de proporcionar resultados econômicos importantes, tem permitido a conservação dos campos e ensejado o desenvolvimento de uma cultura mestiça singular, de caráter transnacional representada pela figura do gaúcho. 
             A progressiva introdução e expansão das monoculturas e das pastagens com espécies exóticas têm levado a uma rápida degradação e descaracterização das paisagens naturais do Pampa. Estimativas de perda de hábitat dão conta de que em 2002 restavam 41,32% e em 2008 restavam apenas 36,03% da vegetação nativa do bioma Pampa (CSR/IBAMA, 2010). 
            A perda de biodiversidade compromete o potencial de desenvolvimento sustentável da região, seja perda de espécies de valor forrageiro, alimentar, ornamental e medicinal, seja pelo comprometimento dos serviços ambientais proporcionados pela vegetação campestre, como o controle da erosão do solo e o sequestro de carbono que atenua as mudanças climáticas, por exemplo. 
       Em relação às áreas naturais protegidas no Brasil o Pampa é o bioma que menor tem representatividade no Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC), representando apenas 0,4% da área continental brasileira protegida por unidades de conservação. A Convenção sobre Diversidade Biológica (CDB), da qual o Brasil é signatário, em suas metas para 2020, prevê a proteção de pelo menos 17% de áreas terrestres representativas da heterogeneidade de cada bioma. As “Áreas Prioritárias para Conservação, Uso Sustentável e Repartição de Benefícios da Biodiversidade Brasileira”, atualizadas em 2007, resultaram na identificação de 105 áreas do bioma Pampa, destas, 41 (um total de 34.292 km2) foram consideradas de importância biológica extremamente alta. 
             Estes números contrastam com apenas 3,3% de proteção em unidades de conservação (2,4% de uso sustentável e 0,9% de proteção integral), com grande lacuna de representação das principais fisionomias de vegetação nativa e de espécies ameaçadas de extinção da fauna e da flora. A criação 
de unidades de conservação, a recuperação de áreas degradadas e a criação de mosaicos e corredores ecológicos foram identificadas como as ações prioritárias para a conservação, juntamente com a fiscalização e educação ambiental. 
         O fomento às atividades econômicas de uso sustentável é outro elemento essencial para assegurar a conservação do Pampa. A diversificação da produção rural a valorização da pecuária com manejo do campo nativo, juntamente com o planejamento regional, o zoneamento ecológico-econômico e o respeito aos limites ecossistêmicos são o caminho para assegurar a conservação da biodiversidade e o desenvolvimento econômico e social.O Pampa é uma das áreas de campos temperados mais importantes do planeta. Cerca de 25% da superfície terrestre abrange regiões cuja fisionomia se caracteriza pela cobertura vegetal como predomínio dos campos – no entanto, estes ecossistemas estão entre os menos protegidos em todo o planeta. 
          O bioma exibe um imenso patrimônio cultural associado à biodiversidade. Em sua paisagem predominam os campos, entremeados por capões de mata, matas ciliares e banhados. A estrutura da vegetação dos campos – se comparada à das florestas e das savanas – é mais simples e menos exuberante, mas não menos relevante do ponto de vista da biodiversidade e dos serviços ambientais. Ao contrário: os campos têm uma importante contribuição no sequestro de carbono e no controle da erosão, além de serem fonte de variabilidade genética para diversas espécies que estão na base de nossa cadeia alimentar. 
         Em nível de conservação, apresenta o menor percentual de área protegida e um dos mais carentes em informações científicas (MMA, 2000)  
Unidades de Conservação de Proteção Integral  
  • Parque Estadual de Itapuã (5.566 ha) 
  • Parque Estadual do Camaquã (7.922 ha
  •  Parque Estadual do Delta do Jacuí (14.242 ha) 
  • Parque Estadual do Espinilho  (1.617 ha)  
  • Parque Estadual do Podocarpus (3.645 ha) 
  •  Reserva Biológica de São Donato (4.392 ha)  
  • Reserva Biológica do Ibirapuitã (351 ha)
  •  Reserva Biológica do Mato Grande (5.161 ha) 
  •  Refúgio de Vida Silvestre Banhado dos Pachecos ( 2.543 ha) 
  • Estação Ecológica do Taim ( 33.400 ha ) 
  • Parque Nacional da Lagoa do Peixe  ( 34.400 ha )   


Unidades de Conservação de Uso Sustentável  
  • Área de Proteção Ambiental do Banhado Grande (133.456 ha)
  • Área de Proteção Ambiental Delta do Jacuí Estadual RS (22.826 ha) 
  • Área de Relevante Interesse Ecológico Pontal dos Latinos e Pontal do Santiago (2.992 ha)
  • Área de Proteção Ambiental do Ibirapuitã (318.000 ha) 

XI. Referências 

Campos Sulinos - conservação e uso sustentável da biodiversidade / Valério De Patta Pillar... [et al.]. Editores. – Brasília: MMA, 2009. 403 p.; il. color. ; 29 cm   
PAMPA: Diálogo florestal. Disponível em: <http://www.dialogoflorestal.org.br/biomas/pampa>Acesso em: 11 de janeiro 2014. 
BIOMA. Mochileiro descobrindo o Brasil .Disponível em:<http://mochileiro.tur.br/biomapampa.htm> Acesso em: 11 de janeiro. 
MORAES, Denise. Bioma campos sulinos. Disponível em:<http://www.invivo.fiocruz.br/cgi/cgilua.exe/sys/start.htm?infoid=965&sid=2> Acesso em: 11 de janeiro 2014. 
Fundação SOS Mata Atlântica & Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais – INPE. 2002. Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica: período 1995-2000. Relatório Final. IBGE. 2004. Mapa de Biomas do Brasil, primeira aproximação. Rio de Janeiro: IBGE. Acessível em www.ibge.gov.br. PLANO DE CONSERVAÇÃO DA BACIA DO ALTO PARAGUAI – PCBAP/Projeto Pantanal. Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal - Subcomponente Pantanal. Diagnóstico dos meios físico e biótico. Brasília: MMA/SEMAM/PNMA.
Manuais técnicos em geociências Divulga os procedimentos metodológicos utilizados nos estudos e pesquisas de geociências. © IBGE. 2012

           

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